SOMOS PREGADORES DO EVANGELHO DE JESUS CRISTO...


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SOMOS PREGADORES DO EVANGELHO DE JESUS CRISTO...
ASSEMBLEIA DE DEUS FLUMINENSE RJ EM CEL FABRICIANO MG IGREJA VIVA DO DEUS VIVO...
"E dar-vos-ei pastores segundo o meu coração, quais vos apascentarão com ciência e
com inteligência."
- Jeremias 3:15
(ACF).



quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010


Matrimônio em Questão 

O Celibato
Verificamos ser o matrimônio um princípio geral estabelecido por Deus para o homem, pois, como vemos no relato inicial: "E disse o Senhor Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-Ihe-ei uma adjutora que esteja como diante dele".1 Na igreja cristã primitiva, encontramos as instruções quanto aos requisitos para os líderes: "Convém que o bispo seja irrepreensível, marido de uma mulher... que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujeição, com toda a modéstia (Porque, se alguém não sabe governar sua casa, terá cuidado da igreja de Deus?)".2 Continuavam, assim, os ministros da Igreja a tradição dos sacerdotes de Israel, que eram casados. O mesmo apóstolo dos gentios adverte quanto à apostasia que haveria de suceder na Igreja, sendo um dos sinais a proibição do casamento.3 Não se pode exigir de ninguém voto de celibato perpétuo, muito menos dos ministros de Deus.

O matrimônio, porém, não deve ser entendido como uma obrigação, mas como uma vocação. Há pessoas que não se casam. E isso pode estar nos planos de Deus. Disse Jesus que: "Há eunucos que assim nasceram do ventre da mãe; e há eunucos que foram castrados pelos homens; e há eunucos que se castraram a si mesmos por causa do reino dos céus".4 Três são as situações em que as pessoas não se casam:
1) as que nasceram com defeitos físicos congênitos; 2) as que foram, de alguma forma, mutiladas pelos homens; e, 3) as que se abstêm voluntariamente – em resposta a um chamado – para uma dedicação integral ao trabalho de Deus. Este último caso não é uma regra geral – são casos especiais, mas, assim mesmo, possíveis. Paulo, que se entregara integralmente à evangelização e perigos, era satisfeito com seu estado de solteiro, mas reconhecia a diversidade de vocações. "Porque quereria que todos os homens fossem como eu mesmo; mas cada um tem de Deus o seu próprio dom; um duma maneira e outro de outra”.5 Ao que parece, entre os primeiros cristãos, vamos encontrar os casados encarregados das igrejas locais, e os solteiros do trabalho de evangelismo itinerante.

Na cristandade, infelizmente, a questão da vida celibatária tem sido eivada de extremos. De um lado, a Igreja Romana o exige para sacerdotes, freiras e religiosos, em voto solene e perpétuo; de outro, a reação protestante tem quase que tornado o casamento uma obrigação, não tolerando, em nenhuma circunstância, a opção celibatária. No mínimo o celibatário é considerado um sujeito "esquisito". Encontramos, nas igrejas, celibatárias de sexo feminino que não o são por vocação, mas a contragosto, porque, malgrado todos os esforços físicos, sociais e espirituais, não conseguiram um marido. Em algumas igrejas, impera uma atmosfera de pressão sobre os jovens em idade de casar, com pessoas se dedicando ao "ministério" de promover os enlaces a qualquer custo. Educados nesse ambiente, os jovens não chegam nem a considerar a possibilidade de um chamado ao celibato.

Tem sido parte da filosofia popular a crença de que somos uma "metade", necessitando de outra "metade" para sermos um ser total. Hans Bürki, em palestras para estudantes, tem advertido contra essa errônea compreensão. Somos, em nós próprios, seres integrais, totais e perfeitos, criados sós por Deus, que nos conhece pelo nome. No matrimônio há uma fusão de dois seres (talvez fosse melhor usar o termo "união", em vez de "fusão", pois não perdemos nossa personalidade) e não a de duas metades. A própria vida das solteiras, aparentemente involuntárias, poderia ser mudada de sentido se, no caso de uma escuta a uma vocação do Senhor, compreendessem o valor de seu ser integral e partissem para uma existência de serviço, alegria e realização.

Conhecemos pessoas que Deus chamou, inicialmente, para um período de celibato e dedicação integral e, posteriormente, para a vida familiar. De modo que poderíamos fazer a Deus, nesse aspecto importante da vida, três indagações: 1. Devo casar ou ficar solteiro? 2. Se devo casar, quando isso deverá ocorrer? 3. Com quem devo casar? Há pessoas que não fazem pergunta alguma a Deus, ou vão direto para a terceira pergunta. Ouçamos a voz de Deus, e não das donzelas e varões casadores e matronas casamenteiras.

Um dos problemas que constrangem os solteiros depois de certa idade é a permanência na casa dos pais ou, em caso de falecimento destes, na de irmãos, com limitação de liberdade e de auto-realização. Partir para viver sozinho em uma casa ou apartamento apenas agrava o problema da solidão, podendo levar a conseqüências negativas. Três seriam as possíveis opções que recomendaria: 1. Em caso de chamado ao ministério, entrada em uma sociedade missionária, onde viveria com outras pessoas em igual estado e situação; 2. Passar a viver, em caso de vocação à vida secular, em habitação compartilhada por outra (ou outras) pessoa igualmente solteira, com quem haja afinidade e espírito de companheirismo; 3. Entrada (ou organização) em vida comunitária religiosa. Isto aqui (opção 3) pode surpreender alguns evangélicos, especialmente no Brasil, onde, muitas vezes, vivemos de modo necessariamente contrário à Igreja de Roma, sem atinar para a razão ou a Escritura. Não estamos falando aqui em votos perpétuos e todo o acompanhamento, muitas vezes neurotizante, da vida monástica, mas me refiro ao modelo protestante encontrado em alguns países europeus, em que os membros desempenham funções seculares, e cuja permanência é espontânea. Creio que já é tempo de termos algo assim por aqui.

Quanto às igrejas, é necessária uma tomada de consciência doutrinária bíblica, para uma mudança de atitude, para que cessem as pressões e manipulações, e a vocação ao celibato tenha seu lugar digno.

O Sentido Do Casamento
"Por isso deixa o homem pai e mãe, e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne".6

O casamento poder ser entendido como uma união voluntária e permanente entre pessoas de sexos diferentes, tendo por base o amor, como propósito a complementação mútua e a formação de uma nova unidade familiar, e como possível conseqüência natural a procriação.

Descaracterizariam o casamento: a) a união involuntária; b) o caráter intencionalmente transitório; c) a não consumação da união carnal; d) a ausência de sentimento genuíno; e) a não formação de uma nova unidade familiar, no deixar pai e mãe emocionalmente.

Tendo criado Adão, Deus achou que não seria bom que ele estivesse só, e lhe fez uma companheira. Isso implica que o homem não foi criado para a solidão, mas para a comunhão e comunicação com outro. É nessa linha de pensamento que escreve René Padilla: "A primeira coisa que se deve notar é que a criação da mulher nesse contexto responde à necessidade que o homem tem de companheirismo".7 É a dimensão social fundamental do matrimônio.

O verdadeiro companheirismo, com o apoio e a compreensão mútua, o altruísmo e o respeito, apenas têm lugar onde haja um sentimento de amor. Em caso contrário, teríamos apenas pessoas se usando mutuamente, em um relacionamento caracterizadamente egoísta.

 A maturidade do sentimento está na permanência, que o leva a crescer e se aperfeiçoar dia a dia. Uma união tão importante e fundamental não se poderia fazer com estabelecimento prévio de prazo fixo.

Na edificação de uma nova célula básica de todo social e na expressão de uma criatividade inovadora e renovada, prescreveu o Senhor o rompimento da dependência dos pais, incluindo o aspecto afetivo. Continuando a honrar os pais e a integrar a família ampla, há agora uma família restrita com características e objetivos próprios.
Essa união se expressa em um dar e receber constante e contínuo, em uma união de propósitos, responsabilidades e sentimentos. A união sexual, como expressão mais íntima, tem um sentido de selo simbólico dessa união. Na união sexual matrimonial é todo o ser que se expressa. Por essa razão concordamos com os que colocam a função da união sexual como essencialmente unitiva.

Nessa função unitiva tem legítima expressão o alívio dos incentivos eróticos. O buscar e o atingir o prazer orgásmico deve ser uma parte normal da vida conjugal, por meio de uma criatividade ampla, com peculiaridades próprias, em que apenas não deve dar lugar ao proibido por Deus e ao antinatural.

A vida sexual conjugal deve ser cultivada, nunca deixada em segundo plano sob justificativas infundadas, inclusive de cunho espiritual. Para não fazer como um casal de recém-convertidos que pretendia trocar a cama de casal por uma separada, para melhor consagração ao Senhor. O apóstolo Paulo adverte que qualquer separação deve ser por pouco tempo e por consentimento mútuo – no caso específico de uma atividade espiritual – e que a ausência sexual prolongada pode favorecer a ação de Satanás.8 Para cristãos que cometeram deslizes sexuais fora do matrimônio é bom perguntar até que ponto a advertência paulina era ouvida em seu lar.

A procriação, seguindo a seqüência da instituição matrimonial em Gênesis, não seria um objetivo do casamento, mas uma conseqüência natural. A ausência de filhos por motivos biológicos não descaracteriza o casamento. Michael Saward adverte para o propósito da união conjugal, no caso de, consciente ou inconscientemente, a motivação para o ato ser "fabricar filhos". No caso de esterilidade permanente ou transitória de um dos cônjuges, tal errônea compreensão do propósito bíblico pode levar a uma crescente frustração, colocando em perigo o próprio casamento e deixando de gozar suas outras dimensões.

Para a Igreja Romana o casamento é um sacramento, ao lado de seis outros de sua dogmática. Tal colocação é repudiada pela teologia protestante como biblicamente insustentável e, em si, incorreta. Afirmando que o casamento somente passou a ser considerado um sacramento sob o pontificado de Gregório VII (1073-85), e que em tal caso a palavra "sacramento" sofre um emprego abusivo, escreveu Calvino: "A ordenança de Deus é boa e santa; mas também o são os ofícios dos lavradores, pedreiros, sapateiros e barbeiros, os quais, sem dúvida, não são sacramentos. Porque não somente se requer para que haja sacramento que seja obra de Deus, senão ademais é necessário que exista uma cerimônia externa, ordenada por Deus, para confirmação de alguma promessa. Agora bem, que nada semelhante existe no matrimônio, as próprias crianças podem compreendê-lo".9

O Casamento Monogâmico
A união monogâmica é considerada a forma ideal de vida matrimonial. O principal fundamento é encontrado na própria constituição do casal original: um homem e uma mulher. Deus não fez um Adão e várias Evas. Ele falou que o homem haveria de deixar os pais para se unir à sua mulher, para serem os dois uma só carne. Sendo esse episódio o ponto de partida da instituição matrimonial, encerra, implicitamente, o propósito divino e seu modelo.

A monogamia é encontrada em várias civilizações e em alguns períodos da história de Israel, sendo já prática prevalecente à época de Jesus, como se pode ver pelos relatos referentes ao tema, assim como os exemplos de famílias mencionadas. Paulo usa essa imagem para representar Cristo e a Igreja, como prova do mais perfeito amor. À semelhança do que faz João no Apocalipse: "Vi também a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, ataviada como noiva adornada para o seu esposo".10

Husson aponta, entre outros, os seguintes valores da monogamia: associação permanente responsável, maior valorização da mulher, melhor ambiente para as crianças, maior respeito mútuo, amor mais altruísta. Forel, citando Westermark, "pensa que se o progresso da civilização continuar a tornar-se, como até aqui, cada vez mais altruísta e o amor cada vez mais afinado, os cônjuges tenderão a requintar-se de atenções um para com o outro, acentuando sempre a monogamia".11

O cristianismo foi, sem dúvida, o grande impulsionador da monogamia entre os povos e culturas onde se fez presente. A legislação secular desses povos, mesmo após a diminuição da influência cristã, consagra essa forma de união. Indiscutível que esse seja o alvo pastoral e pedagógico do cristianismo.

A monogamia tem sido defendida por estudiosos, cientistas e pensadores de diversas correntes, assim como recebido apoio dos dois sistemas econômicos contemporâneos: o capitalismo e o socialismo, por permitir uma melhor canalização criativa das energias sexuais do homem, para o crescimento da empresa ou para a edificação da nova sociedade, respectivamente.

O Casamento Poligâmico
Em geral, condicionados por costumes presentes, os descrentes costumam querer gozar os colegas crentes fazendo menção à poligamia na Bíblia. Condicionados pelos mesmos costumes, e nem sempre conhecendo suficientemente as Escrituras, os crentes ficam embaraçados, desconversam ou respondem que "aquilo foi um pecado daquele tempo". A necessidade de se estudar o assunto fazendo justiça ao texto bíblico é inibida pelo temor de um questionamento a valores e práticas sacralizadas pelo Ocidente e por nós internalizadas. Como explicar o pensamento de Halley: "O fato é que muitos santos do Antigo Testamento foram polígamos"?12

O primeiro polígamo, nos relatos bíblicos, foi Lameque, bisneto de Adão: "Lameque tomou para si duas esposas: o nome de uma era Ada, a outra se chamava Zilá".13 Essa prática tornou-se comum entre os judeus, tanto na era patriarcal como na dos juízes e dos reis, com variação de incidência. Pode-se dizer que era algo opcional, convivendo, na mesma sociedade, famílias monogâmicas e poligâmicas. Pelo exemplo de outras civilizações, acredita-se que a poligamia era mais comum entre as classes economicamente mais favorecidas, pelos encargos financeiros que isso acarretava.

Em um manual de Ética Bíblica, usado em muitos seminários da América Latina 14, o autor aponta três passagens bíblicas de condenação à poligamia: uma é um texto isolado e duas são incidentes com grandes servos de Deus. Resolvemos estudar os dois incidentes e mais um terceiro, para melhor compreensão do assunto: Abraão, Davi e Salomão, que foram três dos principais dos santos polígamos de que fala Halley. A conclusão é que nos três casos não se encontra o propalado "pecado" da poligamia, mas sim outros problemas.
a) Abraão:
Especialmente para aqueles que acham indigna a atividade sexual para anciãos, Abraão deveria ser classificado de "velhinho corrupto", o que não é de se espantar. Onde já se viu conceber filho de escrava aos oitenta e seis anos e um filho da esposa aos cem? Com mais de um século de vida, fica viúvo, casa-se outra vez, gera seis filhos (sem contar os das concubinas) e morre, finalmente, aos cento e setenta e cinco anos.
Mas foi esse homem – escolhido pelo autor da carta aos Hebreus como exemplo de fé – que Deus chamou para ser fundador de seu povo escolhido, e de cuja descendência nasceria o Salvador. Com esse homem Deus se comunicou, diretamente ou por meio de seus enviados, os anjos, e com ele estabeleceu concerto perpétuo.
Teve sua conduta reprovada por Deus, porque, por duas vezes, em momentos de fraqueza espiritual, negou ser Sara sua esposa, apresentando-a como mera irmã, colocando-a em risco de adultério.
A separação de Agar, por intervenção divina, deveu-se à necessidade de solucionar um problema de relacionamento, e não uma condenação à poligamia em si, que ele haveria de adotar até o fim. A essa Agar Deus protegeu, ouviu a voz de seu filho e prometeu fazer dele uma grande nação.
Desse "velhinho" disse um comentarista: "Abraão era amigo de Deus, glorioso protótipo de obediência, de justiça, de fé, pai dos fiéis, fundador da raça hebraica, o zeloso protagonista da religião de Jeová".15
Amigo de Deus.
b) Davi:
Teve Davi como esposas a Mical, filha de Saul, a Ainoã, Maaca, Hagite, Abital, Eglá, Bate-Seba, além de outras mulheres e concubinas não mencionadas nominalmente.
Com esse tipo de vida conjugal, Davi foi escolhido por Deus para ser rei de Israel, livre de seus adversários, vitorioso sobre as nações inimigas e sucesso administrativo. "E Davi ia cada vez mais aumentando e crescendo, porque o Senhor Deus dos exércitos era com ele".16 Usado por Deus para edificar espiritualmente seu povo na posteridade, ele o inspirou nas sublimes e profundas orações e cânticos dos salmos. "O espírito do Senhor falou por mim e a sua palavra esteve em minha boca".17
Homem de grandes qualidades pessoais teve Davi sua queda, pecando contra o sexto e o sétimo mandamentos, tomando a mulher de seu fiel Urias e ordenando  a sua morte. Homicídio e adultério foram seus delitos. Em nenhum outro episódio bíblico fica tão clara a diferença entre poligamia e adultério. Repreendido por Deus, por meio do profeta Natã, é punido. Amargamente arrependido, é perdoado. Bate-Seba permanece como sua esposa, e um seu filho, Salomão, é escolhido para sucedê-lo no trono.
Quão diferente a nossa maneira condicionada de analisar os homens, e a maneira de Deus!
Hoje, seria provável, Davi nunca chegaria a ocupar cargos eclesiásticos. Para Deus, contudo, ele era um seu servo e um seu ungido, um homem segundo seu coração.

c) Salomão:
Com Salomão o reino de Israel atingiu seu apogeu material e espiritual, incluindo a própria construção do templo. Sobre suas convicções espirituais sabemos que "amava o Senhor". Deus por várias vezes se comunicou com ele, e lhe deu o dom da sabedoria. Três dos livros canônicos do Antigo Testamento (Provérbios, Eclesiastes e Cantares) foram escritos por sua instrumentalidade, além de alguns salmos.
E Salomão foi o maior polígamo da Bíblia (embora o número de suas mulheres não seja considerado por alguns comentadores como literal, mas sim hiperbólico), sem que isso lhe fosse imputado por mal.
E o famoso pecado de Salomão, responsável por sua decadência, não foi esse?
Certos pregadores moralistas tomam um texto isolado (I Reis 11:3) e constroem sermões que são verdadeiros libelos contra a poligamia. Eis o texto:
"E tinha Salomão setecentas mulheres, princesas, e trezentas concubinas; e suas mulheres lhe perverteram o seu coração".
E o contexto?
O versículo 1 diz que muitas dessas mulheres eram de povos adoradores de outros deuses: moabitas, amonitas, edomitas etc., e o versículo 2 lembra a proibição de Deus a essas uniões.
O primeiro pecado de Salomão foi o casamento misto.
E a tal perversão de seu coração, não foi a licenciosidade? Será?
"Porque sucedeu que, no tempo da velhice de Salomão, suas mulheres lhe perverteram o coração para seguir outros deuses..." (v.4) Salomão construiu imagens e sacrificou a vários deuses estranhos: Astarote, Milcam, Quemós e Maloque.
O segundo pecado de Salomão foi ter deuses estranhos (primeiro mandamento) e o terceiro, a idolatria (segundo mandamento).
A própria Bíblia confirma essa interpretação. Quando Neemias (13:25-26) repreendeu o povo contra os casamentos mistos, argumentou: "Porventura não pecou nisto Salomão, rei de Israel, não havendo entre muitas gentes rei semelhante a ele, e sendo amado de seu Deus, e pondo-o Deus rei sobre todo o Israel? E contudo as mulheres estranhas o fizeram pecar".
Tivesse ele tido por esposas apenas mulheres de seu povo, servas do Deus verdadeiro, é quase certo que nada disso teria acontecido.
Se o propósito inicial de Deus foi monogâmico, por que, posteriormente, permitiu a poligamia, inclusive a seu próprio povo, com quem se comunicava, ditava normas e escolhia governantes? Por que ele não condenou explicitamente a poligamia, impondo sanções aos praticantes?

O plano de Deus para o homem no Éden era perfeito. Veio a queda, e com ela a corrupção da terra, do homem e das instituições. O homem se tornou de natureza pecaminosa, desencontrado com Deus e sua vontade, impossibilitado de gozar as bênçãos do Éden, ou de viver, em qualquer setor, à maneira original de Deus. Assim, tudo que o homem, mesmo regenerado, procura fazer para se aproximar das instituições do Éden, torna-se uma pálida imagem, não idêntica. Desse modo, a monogamia de hoje, com seus conflitos e problemas – pelo pecado do homem – não é a mesma prevista nas origens. É a vida pecaminosa pós-queda, que leva Deus, em sua misericórdia, a se revelar, irromper na História e apresentar um fim último restaurativo: a Nova Jerusalém. Nesse primeiro sentido, de instituição pós-queda, a poligamia tem a ver com o pecado, com a ruptura: vontade de Deus – vontade do homem. Não é o modelo original.

Mas nada, no pós-queda, é fiel ao modelo original. Deus expulsou o homem do Paraíso, e seria irrealista exigir dele o cumprimento dos padrões edênicos. O homem é agora – como degenerado – uma "nova criatura", diferente do estado primitivo de Adão. Para restaurá-lo, parte Deus da situação concreta, de como o homem se encontra, e providencia normas e instituições que tornassem possível a vida em sociedade, que evitassem a destruição da criatura pela criatura. Aí aparecem o Estado, as Leis, as Autoridades; aí se manifesta a Lei Revelada, os profetas, o Salvador e a Igreja. Ele usa o próprio homem a seu serviço, e toma forma de homem na salvação. É difícil saber distinguir – nessa situação – a providência e a permissão de Deus. Em tudo ele almeja o melhor e permite um mal menor para evitar um maior. O celibato, a poligamia e a monogamia imperfeita aparecem, em situações distintas, dentro das instituições pós-edênicas.

Com a lei original em seu coração, o homem pecador não pode, em virtude de sua condição, cumpri-Ia. Ela se transforma em mero alvo ético a ser perseguido. Deus manifesta agora uma nova Lei para fazer frente à nova situação. Essa nova Lei é o mínimo ético tolerável pelo Senhor. Se o homem é existencialmente um pecador, a infração aos preceitos dessa Lei revelada constitui-se em pecados. Mas, nem essa nova Lei ele consegue cumprir, tropeçando a cada instante, e necessitando de alguém que a cumpra por ele. Essa Lei é minuciosa. Deus diz claramente o que quer e o que não quer, apresentando punições aos infratores. É especulação ociosa o perguntar por que Deus não determinou mais tal ou qual norma, para enquadrar qual ou tal delito (por nós considerados). A sabedoria de Deus é perfeita, e não permite reparos.

No sentido de que a lei original, escrita no coração, no Éden, transforma-se da condição de realidade para a de ideal ético é que Davis (pág.109 de sua obra citada) afirma: "A monogamia é o ideal divino". E é no sentido de ausência de uma expressa norma proibitiva, com punição prevista, que a poligamia não foi considerada um pecado. É ainda por essa visão que podemos compreender a expressão mencionada de Halley – um evangélico conservador – da compatibilidade entre poligamia e santidade, indo de encontro aos que optam por posição contrária, achando as categorias mutuamente excludentes. Não a considerando pecado, Halley, Davis e outros comentaristas não deixam de analisar a potencialidade para possíveis problemas de relacionamento, com o surgimento de conflitos e tensões (as opções sociológicas para os conflitos são: a competição, a acomodação e a cooperação) dentro da instituição matrimonial.

A poligamia foi viável como amparo social para as mulheres economicamente menos favorecidas, para a garantia da sobrevivência social diante dos extermínios das populações masculinas, dizimadas pelas guerras, e outras razões peculiares a cada situação específica.

No caso de Israel, o desequilíbrio demográfico (mais mulheres do que homens), por diversas razões, não somente punha em perigo a sobrevivência do povo eleito, a quem Deus tinha reservado um propósito histórico, mas terminaria por levar ao desrespeito da proibição aos casamentos mistos, com conseqüente enfraquecimento da vida religiosa. Além disso, possibilitou, não apenas a reprodução, mas a satisfação das necessidades afetivas e sexuais básicas, já que a mera repressão dessas necessidades, sem uma vocação ou um propósito, nunca foi considerada pelo povo de Deus e por seu Criador como virtude em si mesma.

Vale recordar que a dimensão pactual do matrimônio é uma verdade bíblica, representada à semelhança do pacto de Deus com seu povo. Não obstante, essa mesma imagem – lembram estudiosos – é empregada do profeta Jeremias (cap.3) e pelo profeta Ezequiel (cap.23), no período dos dois reinos (Judá e Israel), com estando ambos os reinos em pacto matrimonial com Deus. São esposas irmãs que se prostituem, adulteram indo atrás de outros maridos (outros deuses), e devem se arrepender e voltar à casa.

E no novo Israel?

À época de Cristo e da igreja primitiva, as condições haviam mudado, não somente em relação ao equilíbrio demográfico, mas em termos culturais. A influência da cultura grega e do direito romano tinha sido fator importante na fixação do modelo monogâmico das civilizações mediterrâneas. Um decréscimo da poligamia já vinha se verificando em Israel desde o período pós-exílico até adquirir um caráter bastante minoritário no início da era cristã. Nenhuma corrente teológica ou escola rabínica, contudo, a condenava, à exceção da seita monástico-separatista dos essênios.

Hastings afirma que nenhuma orientação decisiva, positiva ou negativa, pode ser tomada dos Evangelhos, e que não há condenação à poligamia em qualquer parte do Velho ou do Novo Testamento. Embora Jesus tenha condenado os excessos do divórcio judeu, não fez o mesmo em relação à poligamia. Nos ensinamentos de Cristo percebe-se a continuidade do pensamento bíblico (que não pode ser contraditório), na colocação da monogamia como modelo ideal, sem impor anátemas à poligamia. A citação de Gênesis 2:24 em Marcos 10:7, 8 não possuía uma conotação antipoligâmica para os judeus, já que a expressão os dois não se encontra no original hebraico, mas é uma inserção da Septuaginta (versão dos Setenta). Semelhante posição é encontrada em Karl Barth (Church Dogmatics): "Dificilmente poderemos apontar com certeza para um único texto no qual a poligamia é expressamente proibida e a monogamia universalmente decretada".

Paulo se ocupa dos problemas de família, respondendo às situações das igrejas. Usa o modelo monogâmico como exemplo e o requer da liderança (presbíteros e diáconos), mas não de toda a igreja. A exigência do comportamento dos líderes poderia servir de exemplo para as comunidades, embora haja intérpretes que vejam no texto uma proibição aos viúvos recasados, ou aos divorciados, de ocuparem os cargos ministeriais.

A expansão das comunidades cristãs, e a posterior transformação do ocidente em uma "cristandade", fizeram desaparecer – ao menos teoricamente – a necessidade da poligamia. O pensamento medieval, que achava o solteiro mais santificado do que o casado, haveria de encarar a distância da santificação pelo número de esposas...

Dentre os Pais, Crisóstomo, Jerônimo e Justino Mártir admitiram, em seus escritos, o fato da presença – excepcional – de polígamos nas igrejas primitivas; Atenágoras e Tertuliano já representavam um período de aberta condenação.

Tomás de Aquino a condenou na Summa Teologiae, assim como o Papa Inocêncio III, em sua carta Gaudemus in Dominus, posteriormente incorporada às decretais de Gregório IX e ao Corpus Juris Canonici, como posição da Igreja Católica Romana.

Entre os judeus na diáspora do Ocidente, a prática subsistiu até o século XI, quando uma reforma levada a cabo pelo rabino Metz passou a admiti-Ia apenas excepcionalmente. Entre os judeus do Oriente a prática continuou até o século atual, sendo ainda encontrada em comunidades que habitam países árabes.

Durante a época da Reforma Religiosa do século XVI, vemos uma manifestação isolada no cristianismo ocidental, entre os anabatistas de Munster, onde as condições sociológicas se assemelhavam às de Israel em certo tempo.18

Entre os teólogos da época vamos encontrar uma grande divergência. Martin Bucer, diante de um caso concreto (a bigamia de Felipe de Hesse), achava permissível, mas desaconselhável. Em seu trabalho Argumenta Buceri Pro et Contra (1539), afirmava: "O que o Senhor permitiu para seu primeiro povo, isso, certamente ele não poderá proibir para os seus entre os gentios". Bucer foi apoiado em sua posição por Lutero e Melanchton. Para este último: "É certo que a poligamia não é proibida pela lei divina". Por essa razão é que se afirma serem os primeiros reformadores alemães portadores de um certo grau de simpatia em relação à poligamia.

Na Suíça ocorreu o oposto. Bullinger escreveu fortemente contra, e Teodoro Beza, em seu Tractation de Polygamia, foi o mais extremado opositor, identificando a poligamia como sendo sempre adultério, mesmo no Velho Testamento. Bernardino Ochino terminou sendo expulso do país pela publicação do Diálogo sobre a Poligamia, considerada uma das obras mais bem escritas sobre o assunto, porém igualmente a de posição mais avançada. Ele achava que havia aspectos positivos e negativos tanto na monogamia quanto na poligamia, e que a opção era uma questão de conveniência. Peter Martyr – dentre outros – ficou em uma posição intermediária: a poligamia não era a mesma coisa que adultério; os convertidos previamente polígamos deveriam continuar nesse estado, pois haviam contraído núpcias de boa fé e tinham compromissos para com as esposas e os filhos; a poligamia foi permitida ao povo eleito para a sua propagação até a vinda de Cristo; sendo a poligamia uma forma inferior de matrimônio, não deveria ser permissível entre os cristãos.19

De qualquer maneira, é patente que as condições históricas, nos aspectos sociais, econômicos e culturais, fizeram as teses proibitivas triunfantes e oficializadas, na doutrina, na liturgia e na disciplina do protestantismo contemporâneo. Coincidindo com a posição católico-romana (reafirmada no Concílio de Trento) e com o Direito Romano, foram incorporadas às legislações dos países do Ocidente. Durante o período de expansão missionária dos últimos dois séculos, novo desafio teve de ser enfrentado, pela presença de poligamia como arraigado costume de povos da Ásia e da África.

Enquanto, nos primórdios do cristianismo, o alvo monogâmico foi sendo implantado aos poucos (quando a igreja, em contato com as culturas poligâmicas, desestimulava novas uniões desse tipo, mas não destruía os lares antigos), muitas das missões modernas tiveram um comportamento diverso e lamentável. Em contato com povos poligâmicos, procuravam monogamizá-Ios da noite para o dia, de modo quase violento, com anátemas e ameaças infernais, o que já representava a supervalorização da conduta sexual em termos de pecado.

Conta-se que um velho chefe, ouvindo as pregações do missionário, converteu-se. Querendo ser professo e batizado, foi impedido. "Só quando tiver uma só muIher", decretou o missionário. O velho chefe tinha três. Continuou crente, mas sem ser batizado. Anos depois, morreu uma das mulheres. O chefe voltou ao missionário, dizendo que agora só tinha duas. Nova recusa. Semanas depois regressou, feliz. "Agora posso ser batizado. Tenho apenas uma mulher", afirmou. "E a outra?", perguntou o missionário. "Comi assada ontem", respondeu tranqüilo o velho chefe. É que a tribo tinha resquícios de antropofagia. E na sua mente – pela tônica monocórdica das pregações doutrinárias do missionário – o importante era ter uma só mulher... Não importando como.

Depois de um século e meio, o quadro da igreja africana, no tocante ao assunto, é de grande disparidade de posições e tratamento:
a) igrejas que não batizam polígamos, e, por conseguinte, não permitem que se tornem membros;
b) igrejas que batizam apenas as mulheres, sem dar-Ihes comunhão;
c) igrejas que batizam também o marido, igualmente sem o direito à comunhão:
d) igrejas que batizam ambos e Ihes dão comunhão e demais direitos de membros, menos o de ocuparem o diaconato e o presbiterato.

No tocante a uniões poligâmicas dos já batizados, a posição tradicional tem sido de exclusão, esboçando-se, no entanto, ultimamente, reação contrária entre grupos e líderes autóctones.

No Congresso Internacional de Evangelização Mundial (Lausanne, Suíça, Julho de 1974), o grupo de discussão, presidido por N. Olukimaym, concluiu pelas seguintes recomendações:
1) as igrejas não devem condenar os casamentos poligâmicos;
2) uma pessoa que é polígama antes da conversão deve ser aceita em plena comunhão (igreja), exceto para assumir os ofícios de bispo e diácono (Tito.1:6);
3) um marido convertido deve continuar a preencher todas as suas responsabilidades para com todas as esposas;
4) esses princípios devem ser administrados de tal modo que não venham a encorajar a poligamia;
5) um convertido que voluntariamente contraia um casamento polígamo, após a conversão, é disciplinado por adultério e normalmente readmitido em pleno arrependimento, incluindo descontinuidade de matrimônio.

Nota-se, na recomendação, uma solução de compromisso entre tendências opostas. Os itens: 1, 2 e 3 são parcialmente contraditórios (nas áreas de disciplina e doutrina) com o item 5.

No mesmo Congresso, o Sr. John T. Mpaayei, Secretário de Tradução da Sociedade Bíblica de Quênia, afirmou, a certa altura de sua alocução: "O peculiar nessa situação é que a ênfase entre os crentes não é em quantas esposas um homem tem, mas se ele ama a Jesus Cristo de todo o seu coração e deseja obedecer-lhe acima de todos os outros".20

Como demonstração do aspecto dialético da teologia, vê-se claramente a diferença de abordagem dos pensadores em situação diversa: os reformadores, discutindo o tema em princípio e teoricamente, inseridos em uma sociedade monogâmica; os missionários europeus na África e Ásia, como pessoas vindas de sociedades monogâmicas, reagindo à situação concreta de sociedades poligâmicas; e os pensadores africanos, de segunda e terceira geração de cristianismo, reflexionando em sua própria cultura. Tem havido uma mudança de tônica, à medida que aumenta a participação dos pensadores nativos. O primeiro líder de vulto a defender a permanência na igreja dos polígamos pós-batismais foi o Rev. Judah Kiwavele, presidente do Sínodo Sul da Igreja Evangélica Luterana na Tanzânia. Ele argumenta que:

"...a Igreja está certa em desencorajar a poligamia entre seus membros. Mas está errada em fazer da monogamia uma das condições para o batismo e a filiação. Meu apelo às igrejas e às missões, portanto, é que os polígamos pré-batizados devem ser batizados junto com suas esposas e filhos sem serem forçados a se divorciar de suas esposas. Devem também ser aceitos em plena comunhão na igreja. Os poliginistas pós-batizados também não devem ser excomungados do rol de membros da igreja por causa das esposas com que tenham se casado ademais de sua primeira esposa".21

Concluindo, verificamos, historicamente, que as posições teológicas, no que concerne à poligamia, podem ser agrupadas em quatro categorias:
a)     poligamia é simplesmente um pecado, comparável ao adultério;
b)    poligamia é uma forma inferior de matrimônio, não pecaminoso onde seja um costume, mas sempre inaceitável para os cristãos;
c)     poligamia é uma forma de matrimônio menos satisfatório que a monogamia, mas admissível, em certas circunstâncias, para os cristãos. (Essa corrente se subdivide: (1) os que acham isso uma concessão às instituições culturais imperfeitas, semelhante à conivência ou convivência dos cristãos com a escravatura, as formas de governo ditatoriais ou sistemas econômicos injustos, e (2) os que acham justificável, dentre os do povo de Deus, sempre que haja um acentuado desequilíbrio demográfico, para evitar a tensão ou os casamentos mistos, considerados males maiores);
d)    a poligamia é uma forma de casamento; a monogamia, outra. Cada uma tem suas vantagens e desvantagens, sendo apropriadas para diferentes tipos de sociedades. Não cabe às igrejas se pronunciar sobre a matéria.

Cremos que a posição a e a posição d são extremadas, refletindo mais os preconceitos tradicionais e os condicionamentos culturais do que os enunciados bíblicos. Qualquer discussão mais séria somente poderá ser feita no meio evangélico, entre os defensores das posições b e c. Este último, em suas variações (1) e (2).

Em virtude da ausência de leituras ou estudos sobre o assunto na América Latina, e o quase total desconhecimento do que se passa nas outras zonas periféricas do globo, o público leitor de nosso continente tende a encarar a poligamia como uma instituição bárbara que ocorria no passado remoto, denotando surpresa em saber de sua existência atual, e que seja alvo de pesquisas e debates.

É verdade que a incidência foi maior no passado. O antropólogo George P. Murdock classificou 250 culturas de acordo com a forma de família. Dessas, 193 eram poligâmicas poligínicas, 2 eram poligâmicas poliândricas (por escassez de mulheres devida ao costume de infanticídio feminino) e 55 monogâmicas (Enciclopédia Britânica). Por essa razão, a Antropologia e a Sociologia tendem a evitar a quantificação de integrantes nas definições de família. Para R. M. MacIver, por exemplo: "A família é um grupo definido por um relacionamento sexual suficientemente preciso e duradouro para prover a procriação e a educação dos filhos".

Se pesquisas históricas, antropológicas e bíblicas têm revelado a capacidade masculina (não a "tendência", como alguns erroneamente afirmam) para uma pluralidade simultânea de laços afetivos, isso não quer dizer que esses relacionamentos sejam medidos em uma divisão exatamente igualitária de sentimentos (50% + 50% ou 33,3% + 33,3%), mas, sim, por uma diversidade quantitativa e qualitativa, pois o contrário dificilmente seria sustentável psicologicamente. Nas sociedades poligâmicas reconhece-se o desempenho especial de uma das esposas, com quem o marido possui maior afinidade. Sara, Raquel e Ana seriam exemplos. Em 29:30 lemos sobre Jacó:... "e amou também a Raquel mais do que a Lia...". Destacam-se as palavras também e mais do que, embora o caso não seja normativo.

Do ponto-de-vista feminino, vale considerar, psicologicamente, a diversidade de tipos: a) as que emprestam valor maior ao caráter exclusivo da posse do parceiro, mesmo que não seja o que mais lhe agrade ("Não é o que eu queria, mas é só meu"), dificilmente se prestam a uma opção poligâmica; b) as que emprestam maior valor ao tipo a quem dirigem o sentimento e o desejo de doação, mesmo que não seja exclusivo ("Não é só meu, mas é aquele a quem amo"), teriam maior predisposição a abrir mão da exclusividade em nome da adequação "sentimento – sujeito desejado". A partir de uma linha behavioralista, nota-se a diferença de racionalidade de comportamento (e escala de valor) na variação da situação e normas regulamentadoras. Assim, em um jogo soma-zero (só um pode vencer), a competitividade é alta, e o potencial de conflito sempre presente. No jogo não-soma-zero (mais de um pode ganhar), cai o nível de competitividade e, em alguns casos, formam-se equipes cooperativas, de auxílio mútuo contra terceiros competidores. Por essa abordagem, o comportamento feminino poderia ser diverso, nas seguintes situações: 1) número igual de homens e mulheres, e a regra estabelece o sistema um para um; 2) número desigual (mais mulheres que homens), mas a regra continua sendo um para um; 3) número igual de homens e mulheres, e a regra permite um para mais do que um; 4) número desigual (mais mulheres do que homens), e a regra permite um para mais do que um. Considere-se, também, a internalização, por socialização, de valores consagrados pela sociedade onde foram criadas, ou a de valores éticos (inclusive religiosos) adquiridos posteriormente.[1]

Esse tema tem vindo à baila, nos anos recentes, em outras partes do mundo, por vários motivos, dentre os quais podemos destacar:
01.            O avanço do Islã e o fortalecimento econômico dos países árabes. A religião muçulmana domina hoje uma faixa de terra que vai da costa atlântica da África até a Indonésia, avançando para o centro e sul da África e estabelecendo comunidades no Ocidente. A crise mundial de energia tem dado aos árabes – detentores das maiores reservas de petróleo – uma nova posição de destaque no cenário internacional. É reconhecida a presença de laços culturais entre o mundo islâmico e a Europa Mediterrânea, especialmente a Península Ibérica, e, indiretamente, com a América Ibérica. Nesses países do Ocidente há uma monogamia de direito e um tipo de poligamia irregular de fato. Certos aspectos de uma nova influência da cultura do Islã teria boa aceitação. A poligamia árabe é do tipo opressivo, cabendo aos cristãos uma resposta adequada e bem elaborada.
02.            O crescente nacionalismo africano e a reação de certos setores do pensamento evangélico à importação de padrões ocidentais, buscando estudar os problemas à luz da Bíblia e de suas próprias tradições culturais. Nesses países – em que mais se elaboram teologias cristãs sobre a poligamia – há um amparo na própria Legislação Civil. Os africanos estão procurando aumentar o intercâmbio cultural com outros países do Terceiro Mundo, especialmente aqueles que possuam populações de origem africana, que tenham preservado traços culturais dos antepassados.
03.            Um novo surto dessa prática em países do hemisfério norte-ocidental. Até recentemente isso era associado, apenas, com a experiência da seita dos mórmons, no século passado.[2] Hoje a imprensa secular vem noticiando a presença da poligamia entre pessoas de outras crenças (inclusive algumas que se dizem evangélicas), especialmente nas grandes cidades, onde podem viver sem serem notadas. No aspecto formal, a instituição se estabelece ou a partir de um pacto prévio entre as noivas ou pela renúncia do direito de exclusividade por parte da primeira esposa. Não tem havido problemas legais, porque o Direito do Ocidente é excessivamente formalista: o crime de bigamia não se dá pelo fato das uniões plurais, mas por se tentar regulamentá-los igualmente. As reportagens da imprensa secular, mesmo de pretensão sensacionalista, têm despertado a atenção dos leitores, a grande maioria sem posição doutrinária firmada.
A relevância do estudo do tema é, por conseguinte, indiscutível.



REVERENDO SAMPAIO.


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